Estou com pré-diabetes, o que fazer? Pré-diabetes é uma doença em que a glicemia (açúcar do sangue) está alterada, acima do valor normal, mas não está alterada no nível necessário para ser considerado diabetes. Nessa condição o corpo não consegue usar a insulina adequadamente. A insulina é hormônio que leva o açúcar do sangue para dentro das células.
Sim, o pré-diabetes é considerado uma doença e certamente necessita de avaliação e tratamento adequados com o objetivo de prevenir o desenvolvimento de diabetes e suas sérias complicações.
O pré-diabetes é uma doença silenciosa e, por isso, não costuma apresentar sintomas. Assim como o diabetes, não se deve esperar por sintomas para fazer exames de investigação. O diagnóstico pode ser iniciado pela presença de fatores de risco como alimentação inadequada, sedentarismo, excesso de peso e história familiar de diabetes.
Assim, é importante a realização de exames de rotina e check-up, para identificação de doenças no seu início, antes do aparecimento de sintomas. O pré-diabetes e várias outras doenças podem ser identificadas dessa forma.
Para saber se você você tem pré-diabetes é necessário a princípio fazer uma consulta médica e o médico fará avaliação clínica e solicitará exames de sangue como:
A glicemia de jejum é o exame que mede a taxa de açúcar do sangue após um jejum de 8 horas. O valor normal é menor que 100mg. Acima de 100mg então é alterado, da seguinte forma:
O teste oral de tolerância a glicose é a curva glicêmica. O teste é feito com uma coleta de sangue para dosagem de glicemia de jejum, então o laboratório fornece um líquido muito doce para ser ingerido. Após 2 horas realiza-se uma nova coleta de sangue para dosagem do açúcar. O resultado do teste de curva glicêmica apresenta os seguintes valores:
Sim. É uma doença que pode parecer inofensiva, mas pode causar sérias complicações no organismo. Existem evidências científicas de associação entre pré-diabetes e complicações relacionadas ao diabetes.
Um estudo publicado na revista Diabetologia em 2022 (chamado Pré-diabetes e risco de mortalidade, complicações e comorbidades relacionadas ao diabetes: revisão abrangente de metanálise de estudos prospectivos) avaliou essas evidências e concluiu que o pré-diabetes está associado a um aumento de 6 a 101% no risco de mortalidade por todas as causas e na incidência de desfechos cardiovasculares, doença coronariana, insuficiência cardíaca, fibrilação atrial e doença renal crônica, bem como câncer total, câncer de fígado, câncer de mama e demência.
Isso significa que as pessoas estudadas que tinham pré-diabetes tiveram mais risco de morte que as pessoas que não tinham diabetes, ou têm um maior risco de desenvolver todas essas doenças listadas acima.
Não se sabe com toda a certeza quem tem pré-diabetes e desenvolverá diabetes nos próximos anos e quem não desenvolverá. Um estudo recente que incluiu 10.796 indivíduos com idade acima dos 20 anos com pré-diabetes concluiu que aproximadamente 70% desenvolveram DM2 (diabetes mellitus tipo 2) dentro de 10 anos (o titulo de estudo em português é: Taxa de incidência de progressão pré-diabetes para diabetes: modelando um grupo-alvo ótimo para intervenção. Popul Health Manag 2017).
Muitos fatores além do açúcar do sangue podem estar associados à evolução de pré-diabetes para diabetes como:
Como em princípio uma grande proporção de pessoas com pré-diabetes progride para diabetes, é essencial prevenir essa mudança através de um tratamento adequado. O tratamento inclui primordialmente mudança de estilo de vida em relação a alimentação saudável e atividade física.
A meta no tratamento do pré-diabetes é reverter o valor do açúcar do sangue para a normalidade e ao mesmo tempo evitar que volte a subir novamente.
Estudos mostram que modificação do estilo de vida e medicação são inegavelmente muito eficazes na prevenção do desenvolvimento de diabetes em pessoas com pré-diabetes. Dessa maneira, recomenda-se uma ingestão calórica reduzida para diminuir o peso corporal excessivo e atividade física moderada a vigorosa de pelo menos 150 minutos por semana para a prevenção do diabetes.
Em alguns casos é indicado o uso de medicamento como a metformina associado à mudança de estilo de vida para prevenção, porém é necessário uma avaliação médica. Outros medicamentos que também podem ajudar nessa prevenção como por exemplo a liraglutida e orlistate podem ser necessários (os medicamentos serão explicados em outro artigo).
Remédio tem mais efeito que alimentação e exercícios? Sem nenhuma dúvida estudos mostram que não. O estudo citado anteriormente avaliou que no mínimo 150 minutos de atividade física aeróbica de intensidade moderada traz um redução de peso ponderal de 7% maior em comparação com o uso de metformina.
Na conclusão, comprovou-se uma redução de 58% de incidência de evolução de pré-diabetes para diabetes no grupo submetido à mudança no estilo de vida, enquanto que houve redução de 31% de incidência no grupo tratado com metformina. Isso mostra como é importante investir em melhora da alimentação e prática de exercícios.
Portanto, em caso de suspeita de pré-diabetes, deve-se procurar uma avaliação médica o mais rápido possível. Assim, confirmando o diagnóstico deve-se iniciar o tratamento adequado para prevenir o desencadeamento de diabetes que é uma doença crônica sem cura, de difícil controle e com risco de complicações graves como cegueira, perda da função dos rins e hemodiálise, doença nos nervos, infecção no pé diabético, aumento do colesterol, infarto e acidente vascular cerebral (“derrame”). Enfim, o pré-diabetes é uma doença reversível facilmente, quando diagnosticado e tratado de forma rápida.
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